A caminhonete seguia em alta velocidade na rua de terra. Em cada curva que passava, os pneus derrapavam e faziam eu perder o controle da direção, até que, logo em frente, avistei a rampa que servia de plataforma de lançamento para eu atravessar o grande desfiladeiro que estava na minha frente.
Segurei a respiração e com um forte empurrão, lancei o meu brinquedo em alta velocidade. A caminhonete tocou a rampa feita com uma capa de livro velho, percorreu o pequeno suporte de madeira e, como em um filme em câmera lenta, saltou o pequeno riozinho que eu havia criado minutos antes com a água da mangueira e aterrizou segura do outro lado. Missão cumprida.
Aquele era o meu brinquedo predileto. Tratava-se de uma caminhonete que parecia uma FORD F-1000, com rodas imensas e com a cor verde fluorescente. Na frente, possuía faróis de neblina e uma grande grade com uma espécie de guincho que eu usava para resgatar meus cavalos do Playmobil. Em cima, tinha um suporte onde eu podia apoiar outros brinquedos e uma caçamba reforçada. E nas laterais, grandes adesivos com as palavras “KING 4×4”.
Ela fazia parte de uma série de carrinhos lançada por uma famosa marca de brinquedos. Entre as suas irmãs de quatro rodas, tinha uma com pintura do exército, outra com pranchas de surf em cima, uma, ainda, com caçamba e cavalinhos e mais algumas opções.
Eu tinha a plena certeza de que se eu conseguisse ter mais elementos dessa coleção, minhas brincadeiras e novas ideias seriam ilimitadas!
Com a aproximação do dia das crianças daquele ano, percebi a possibilidade de aumentar minha frota e comecei a perturbar meus pais. Acordava pedindo caminhonete, almoçava pedindo caminhonete e ia dormir seguindo o mesmo roteiro.
Não satisfeito, comecei a perturbar minha madrinha, meus tios e até os vizinhos. Eu estava impossivelmente chato.
Mas o fato é que… deu certo! No dia 12 de outubro ganhei cinco novas caminhonetes.
Minha frota aumentou consideravelmente e, como previsto, passei a sonhar com aventuras muito maiores. Construí uma praia miniatura para ir surfar, fazendinhas de brinquedo para ir com a caminhonete dos cavalos, uma guerra de plantas para o veículo do exército entrar em ação e muitas outras histórias.
Com o tempo, passei a sentir uma sensação estranha e muito incômoda.
Apesar de eu poder brincar com todas elas ao mesmo tempo, quando eu o fazia, a brincadeira não parecia completa. Além disso, eu tinha uma imensa dificuldade de escolher com qual brincar em cada dia.
Com o passar do tempo, o que aconteceu foi que cada brincadeira deixou de ter a intensidade do passado e fui perdendo o interesse nas caminhonetes. Até que elas foram colocadas na caixa de “brinquedos já não mais utilizados”.
Aos poucos, percebi que sempre tive essa dificuldade na vida, quando as minhas opções de escolha sobre algum assunto se tornavam maiores. E após começar a trabalhar com desenvolvimento humano, definitivamente aprendi que esse não era um problema exclusivamente meu.
Em mais de 95% das mentorias que realizei nos últimos tempos, as pessoas estavam de alguma forma travadas em excessos de opções. E uma das principais áreas onde o problema acontece para elas é na quantidade de cursos online que elas adquiriram, e que, por fim, não conseguem levar nenhum para frente.
Pode parecer contraditório, pois, teoricamente, seria muito mais vantajoso ter uma abundância de opções para escolher o que você tem mais interesse de estudar, ou de brincar. Mas é exatamente isso que acontece quando a nossa mente se vê sobrecarregada e confusa diante de tantas possibilidades. Nós ficamos confusos e, por consequência, paralisados.
Aos poucos essa confusão gera em nós uma verdadeira crise de indecisão e de insatisfação, ao invés de nos impulsionar, nos afastando, assim, de uma vida mais feliz.
Isso vai contra tudo o que muitos de nós acreditam, pois, sempre associamos a nossa liberdade de escolha ao nosso bem-estar e nossa qualidade de vida. Mas, é um fato.
Você também, provavelmente, já tenha vivenciado isso algumas vezes, e tenha se sentido paralisado, ou simplesmente exausto em ter que escolher algo. Então, é bom você saber. Quanto mais possibilidades e opções temos, mais difícil será a nossa decisão. E assim, ao invés de nos sentirmos livres para escolher, acabaremos insatisfeitos, cansados e colocando nossas opções na caixa de “brinquedos que não usamos mais”.
Reduza as suas opções de escolha. Isso pode te ajudar a ser mais feliz.
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