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Um verão que não tem fim

Muitos já me perguntaram “quando você começou com esse negócio de viver um verão sem fim #summerneverends?” (Pois, esse é um tema que incorporo na minha vida, e defendo de forma enfática nas minhas redes sociais).

A primeira coisa que eu posso dizer é que isso não significa que eu tenha uma vida sem problemas. Não posso dizer que passei grandes dificuldades, mas como todas as pessoas, tive vários momentos de sofrimento e luta.

Depois, nunca soube exatamente quando isso começou. O que sei, é que por algum instinto, intuição ou ação, tenho a tendência de procurar o lado bom das coisas, mesmo nos momentos de sofrimento. Por exemplo, eu que sou apaixonado pelo verão e durante o inverno, em vez de lamentar, prefiro pensar alegremente que estou, a cada dia, mais próximo do verão seguinte.

Mas sempre buscando essa resposta cheguei a um momento específico da minha vida.

Foi no tempo em que eu passei fome.

Na verdade eu não lembro dessa história que vou te contar, mas trago para vocês através do relato que tenho de outras pessoas. 

Por um problema no fornecimento de comida, parei de receber boa parte do alimento que deveria consumir. Não tinha nem o necessário para manter meu corpo como estava.

Comecei a perder peso rapidamente.

Como eu disse anteriormente, eu não sei exatamente como, mas com uma ajuda divina, e também terrena, consegui sobreviver por dois meses dessa forma. Tanto que, hoje estamos aqui tomando nosso café juntos.

Esse drama caminhou para um desfecho final, por coincidência, em um domingo de manhã. Por volta das 6h30, minha mãe entrou no hospital comigo, acompanhada do meu pai. Eu já me mo-via muito pouco.

O drama que parecia estar na sua reta final, ganhou ares de desespero quando a ausência do anestesista no Hospital adiou ainda mais o início do procedimento que precisava ser feito. (O que levou meu sempre calmo e sereno pai a causar um barraco na entrada do centro cirúrgico).

Por fim, 7h30 do dia 31 de julho de 1977, eu nasci.

Minha mãe permaneceu em coma por 3 horas, enquanto eu fui para um berçário onde fiquei por 20 dias me recuperando.

Nasci com 1.7kg. Costumo dizer que era uma peça de picanha mal cortada. Já, minha madrinha, prefere dizer “carinhosamente” que eu parecia um ETzinho. Meus demais familiares simplesmente me apelidaram de “Toco”.

O fato é que eu era cabeça, pele e osso. Fora a falta de carne, o resto permanecia em perfeitas condições. Órgãos, movimentos, unhas, e até cabelo eu tinha naquela época.

Sempre me perguntei como sobrevivi e de onde um feto, que não possui um raciocínio lógico, encontra forças para suportar aquela situação (obviamente, sabendo que o fator fundamental daquilo tudo foi a minha mãe e eu lutarmos juntos).

Anos depois, um médico me veio com a melhor explicação que já tive sobre isso:

“Após a placenta da sua mãe colar, pouca quantidade de comida era enviada para você. Muitos fetos não se adaptam e, infelizmente, não resistem porque seguem necessitando da mesma quantidade de alimento para sobreviver. Mas, de alguma forma, você conseguiu fazer daquele pouco que tinha e do corpo criado até ali, a sua fonte de energia vital e viver com o tanto de vida que tinha. Você se movia menos, inclusive. Parecia saber que tinha que economizar.” – afirmou ele.

E ainda completou: “O mais intrigante, é que você nasceu sorrindo”.

O neuropsiquiatra, fundador da logoterapia, Viktor Frankl, após um período de extremo sofrimento vivendo nos campos de concentração, escreveu: “Quando a situação for boa, desfrute-a. Quando a situação for ruim, transforme-a. Quando a situação não puder ser transformada, transforme-se.”

Foi isso que, de forma inconsciente, fiz. Me transformei, vivi com o que tinha e, junto com minha mãe, me agarrei ao desejo de nascer. Dei sentido ao meu sofrimento e vivi aquele momento como a vida realmente era para ser.

Se você está passando por um momento difícil, como muitos de nós estamos nos dias atuais, não desista. Busque dar esse sentido ao que você está passando e viva a vida. Transforme a sua situação ou transforme-se. 

Portanto, quando você tiver alguma dúvida de onde ou quando surgiu meu “verão sem fim”, talvez essa seja a resposta. 

O pequeno Toco já nasceu assim, sabendo que o verão pode até encerrar provisóriamente, e que se soubermos tirar proveito das demais estações e dos momentos que não são tão agradáveis para cada um de nós, logo o nosso verão vai voltar e conseguiremos viver uma vida boa.

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Divirta-se!